Sim, foi exatamente esta frase que ouvi de uma professora da
faculdade uma vez. É claro que, o contexto estava-se discutindo sobre
inteligência emocional e foi levantada a pauta sobre mães solteiras que deviam
casar novamente com homens melhores, que cuidassem delas e de seus rebentos.
Lá do meio veio uma piadinha saída da minha boca, alto
suficiente pra professora ouvir “Se nem os próprios pais querem cuidar de seus
filhos, arranjar um marido que queira cuidar do filho que não é dele seria
quase um milagre!” e ela disparou “Isso porque você é burra! Mãe solteira, não
possui inteligência emocional pra escolher, são todas burras!”.
Nossa, como doeu! Foi um golpe no meio do meu estômago e
atingiu meu coração, mas ela não parou por aí, não mesmo, ela continuou “... é
muito fácil se apaixonar por um homem e abrir as pernas pra ele, mas pensar se
ele vai ser um bom pai é complicado, tem que ser muito inteligente.” aos poucos
minha visão foi embaçando e eu sabia que iria começar a chorar bem ali, no meio
da sala de aula com todos os olhares em cima de mim e a satisfação no rosto
dela por não ser questionada por um único aluno em suas afirmações
preconceituosas e tão ferozmente proferidas, não ser questionada porque a maioria estava de acordo com esse pensamento. A maioria que silenciosamente julga com um sorriso no rosto e um tapinha nas costas.
Todos ali sabiam que eu era/sou mãe solteira/solo e talvez
todos achassem que eu fosse defender a mim mesma ou a minha posição materna,
mas não foi o que fiz, ao invés disso, saí da sala correndo e fui buscar meu
filho na escola chorando por todo o caminho. No mesmo dia mais tarde, esse era
o assunto em um grupo da turma e todos pareciam confortáveis em me defender
fora do olhar da professora, eu ainda não.
Demorei semanas pra parar de chorar por aquilo toda vez que
lembrava, as palavras que tanto me humilharam vindas de alguém que eu até então
admirava estavam me matando e não conseguia nem olhar pra ela, faltei algumas
de suas aulas depois e não fui bem na prova, minha primeira nota baixa do curso
até aquele momento, o que me humilhava mais, pois era uma forma de confirmar
pra ela o quanto eu era mesmo burra.
Precisaria me esforçar muito pra passar na matéria dela e
obtive ajuda de um colega que não a conhecia pra estudar, ele percebendo que eu
não tinha muitas dificuldades com a matéria me perguntou o motivo da nota baixa
e eu desabafei, criei bloqueio pelos dizeres da professora, dei importância
demais porque muitas vezes me sentia exatamente assim, burra!
É bom mencionar que tenho em alta estima este colega e o
considero muito inteligente, por seu enorme sucesso com tão pouca idade e por
seus inúmeros diplomas, ele então me explicou o seguinte, obviamente não com essas
palavras: Todo dizer é um discurso e precisa ser analisado pelo seu contexto
pleno, ou seja, quem o diz, para quem o diz, como diz, porque o diz e o que quer
dizer com ele. Mas também se deve analisar aquele que profere o discurso, ou
seja, quem está falando, sua história de vida como é apresentada por ela e como
é vista por todos.
Bem, depois de muito conversar, explicar e mostrar, percebi
que eu realmente seria burra se acreditasse na professora, se parasse meus
sonhos por causa dela e se me deixasse derrotar. Ergui a cabeça e passei com
nota altíssima na matéria dela, mas o mais importante é que passei de cabeça
erguida e continuarei em frente, não deixarei ninguém me derrubar.
Provavelmente essa mulher, cheia de diplomas e cargos, não saiba nunca o mal que me fez e que pode ter feito a muitas pessoas com apenas algumas palavras, e assim como ela, há várias pessoas que ferem os outros sem perceber. O mais importante é : Como você vai lidar com os espinhos que pisa enquanto caminha?
Bianca Ramos
Provavelmente essa mulher, cheia de diplomas e cargos, não saiba nunca o mal que me fez e que pode ter feito a muitas pessoas com apenas algumas palavras, e assim como ela, há várias pessoas que ferem os outros sem perceber. O mais importante é : Como você vai lidar com os espinhos que pisa enquanto caminha?
Bianca Ramos
Nenhum comentário:
Postar um comentário